Fui estuprada aos 16 anos. Ainda era virgem e o criminoso foi "gentil" e me pegou por trás. Nunca relatei isso porque pareceria "publicidade" para algumas línguas viperinas (como relatar um estupro pode ser publicidade?) efortune tiger da dinheiro de verdade, principalmente, porque não quis mesmo. Não via razão para essa exposição.
fortune tigerAgora quero falar, principalmente, porque quero falar. Fui ameaçada de morte ao tentar sair do carro, em movimento, na estrada da Serra da Cantareira. Um tapa na cara e um "fecha essa porta", quando tentei pular do carro, "ou te jogo na represa". Obedeci. Ele era um criminoso qualquer, um estuprador qualquer. Um desconhecido. Não citarei o nome porque, de fato, não sei o nome. Foi em uma carona que peguei. Eu, realmente, superei esse fato. E rapidamente. Dona de meu corpo que sempre fui, não o perdi no estupro. Mas essa é a minha capacidade de superação. Um pertencimento onde não dou direito a me roubarem.
Tive mais 4 ou 5 casos de abuso pontuais ou intimidação. Mas nunca me relacionei com abusadores. Por acaso, peguei uns machos misóginos em meu caminho, mas como escolha jamais. Talvez sorte? Até porque muitas mulheres entram em um relacionamento que só vai se tornar abusivo depois de algum tempo. Mas penso, também, que os homens abusivos nem se aproximavam de mim, mais medo que tesão. Na maioria das vezes, eu mais assusto os homens do que causo tesão. Mais os castro do que os intumesço.
Jogo do tigre queAos 17 anos fui chamada na TV Cultura por um senhor poderoso, que não digo o nome porque não lembro, para fazer episódios de teledramaturgia.
"Mas você terá que sair comigo." Ao que respondi: ah, você acha que vou sair com você para fazer TV Cultura que dá traço no ibope? E saí gargalhando deixando-o com o p... na mão. Fiz algumas minisséries na Globo e não fui assediada. Minha primeira novela foi aos 50 anos no horário nobre da Globo. Mal sabia o senhor da TV Cultura que, mesmo se ele fosse da maior emissora do país, não sairia comigo. Só fiz o que quis e com quem eu quis. Por tesão, por amor ou pelo combo. Estive com poucos homens que agregavam algum poder, pelo combo: amor/tesão.
Um filho de um grande publicitário, certa vez, me recebeu em seu escritório para uma reunião de patrocínio com o pênis exposto e ereto: muito bonito o seu pênis, mas vim conversar sobre outra coisa. Ao que o pênis encarado com tamanha naturalidade e análise estética, mesmo que positiva, acaba retornando ao seu estado recolhido. Nunca me intimidei com um pênis. Por maior que fosse, 15 cm, 17 cm não alcançariam meus 1,70 m de mulherão da porra. Sempre achei o pênis algo pequeno para me constranger.
jogo do tigre linkUm cineasta em um festival veio para cima de mim (porque, me disseram, não tinha outro quarto para eu dormir), recusei, ele disse: o que faço agora que estou assim? Respondi: liga para sua mulher e se masturba. Desse lembro o nome e não vou contar. Por quê? Porque não quero. Só para relembrar: falo quando quero, o que quero e para quem quero. Claro que quando são colegas de profissão tudo é mais constrangedor que com desconhecidos. E quando é o seu próprio companheiro que se torna o abusador ou estuprador, dentro do casamento, imagino o quão terrível. Sim, porque os maridos acham, ainda, que as mulheres estão lá para eles a qualquer hora.
Mas vamos ao que vim: Vanessa Barbara.
Multiplique sua banca — Agora é a sua vez de aproveitar. Saques diários ilimitados. Acesse e se divirta.Alguns dizem, sobre o caso do podcast da Rádio Novelo, "CPF na nota?", e da escritora Vanessa Barbara, "mas falar agora depois de tanto tempo?". Muitas razões para isso, mas vou escrever apenas uma: porque ela quis. A história é dela, a cicatriz é dela e ela conta quando ela quer. Já o outro lado, "mas faz 14 anos, era outra época"; ainda dói na vítima, não há desculpa por ser outra época, é abuso igual.
Ou outros, e nesse caso tristeza maior, outras, que chamo de "mulherzinhas" (essas que apoiam misóginos porque não querem perder seus privilégios): ela quer publicidade, ela foi movida pelo ressentimento.
TodasEla foi movida por ela mesma, pela história de vida dela, para expurgar o nojo de seu corpo, para tomar seu corpo de volta. E sobre mudanças de abusadores para homens conscientes: há alguns, acredito, já testemunhei amigos que saíram de grupos de WhatsApp por discordarem da misoginia de seus amigos, mas na maioria penso que eles só ficaram brochas, mesmo, e com isso acabou a força e o ímpeto para abusos. Perderam o topete do phoder.
Patrícia Galvão, Pagu, relatou os abusos sofridos ao lado de Oswald de Andrade, e não, ele não foi cancelado. Narrou também o encontro com Borges: "quando estive em Buenos Aires, Borges quis se despir no meu quarto, cinco minutos depois de me conhecer, fazer lutinha". Sim, Jorge Luis Borges. Ao que completou, "os homens da direita ou da esquerda são exatamente iguais: homens".
Estou no momento fazendo um trabalho com a talentosa Luh Maza, uma mulher trans, que trará suas feridas para cena em um texto inédito no Brasil. Aí vamos colocar todo esse sangue e raiva que transbordam em nossas histórias. Assim fazemos nós artistas. Temos onde derramar nossa perplexidadefortune tiger da dinheiro de verdade, nossa raiva, nossas feridas. Expurgar. Como disse Patti Smith: "Uma artista veste seu trabalho no lugar de feridas".
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